Vida Monástica Contemplativa

Vida Monástica Contemplativa
"A Alegria da Consagração Monástica e Contemplativa" (tema)

quinta-feira, 29 de junho de 2017

HOMÍLIA DO EXMO. REVMO. DOM GIOVANNI D’ANIELLO, NÚNCIO APOSTÓLICO NO BRASIL

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“Ninguém vos poderá tirar a vossa alegria!”



Caríssimas irmãs, esta frase que acabamos de ouvir do Evangelho acende no nosso coração uma esperança renovada, devolve à nossa fé uma certeza que não pode ser esquecida, deposita em nossos corações uma promessa verdadeira e que é a fonte da nossa alegria: o Senhor estará sempre conosco!

De fato, a alegria do Evangelho nasce da presença de Jesus que nos fala, nos orienta e nos acompanha. Que grande alegria é poder estar do lado d’Ele, dedicar-se ao diálogo freqüente com o Senhor e sentir no coração a Sua presença consoladora que entusiasma e sustenta; que dá coragem e afasta o mal e que dissipa todo medo, como nos garantia a primeira leitura.

O Papa Francisco, em sua Carta ‘Alegrai-vos’, escrita por ocasião do Ano da Vida Consagrada (2014), nos recordava que “esta é a beleza da consagração: é a alegria, a alegria...”. E o Santo Padre seguia nos lembrando de que “não há santidade na tristeza”, enquanto nos repetia a exortação de São Paulo aos Tessalonicenses: “não andeis tristes como os que não têm esperança” (1Ts 4, 13).[1]

Caríssimas, é providencial que neste dia em que nos reunimos para louvar a Deus pela vida consagrada, especialmente por todas as irmãs que se dedicam à oração, à contemplação e ao louvor a Deus na vida de clausura, fazemos também memória a São Felipe Néri, o “santo da alegria”.

De fato, a vida na clausura não pode ser um fardo que a disciplina exige, nem um suplício suportado apenas pela obediência. Ao contrário, deve ser um espaço de alegria, onde o coração se alimenta de amor e se expande na caridade.

A vida de clausura não é também uma fuga do mundo nem uma negação da vida em sociedade. Mas, é, antes, um refúgio em Deus, um santuário de caridade e preces, um encontro mais íntimo com o Senhor. É a escolha daquela ‘melhor parte’ que não vos será tirada e que o mundo não conhece e, por isso, não entende.

É verdade, irmãs, que a clausura tem a finalidade de manter entre as religiosas um clima de recolhimento, de silêncio, de oração para uma mais perfeita busca de união mística com Deus. Contudo, e apesar desta separação física com "o mundo", sabemos que as religiosas mantêm-se intimamente unidas à humanidade e aos seus respectivos problemas, através das suas orações contínuas oferecidas como intercessão. Pensemos no exemplo de Santa Teresinha do Menino Jesus, que nunca saiu do seu convento na França, mas foi considerada como padroeira das missões.

Sim, a missão da Igreja depende mais das orações e dos joelhos dobrados diante do altar que dos nossos modernos instrumentos e técnicas de evangelização e dos nossos talentos pessoais. É justamente por isso que o Papa Francisco, por exemplo, pede continuamente que rezemos por ele.

Como é bom saber, queridas irmãs, que ainda hoje tantas almas consagradas se dedicam a esta tarefa fundamental na Igreja: a oração. Vigiar e orar ainda são as mesmas orientações que o Senhor continua nos fazendo.

Oração e alegria são o binômio através do qual o amor se expande e cativa; são, também, um verdadeiro instrumento vocacional. Quantas jovens já se deixaram seduzir e ainda hoje continuam respondendo ‘sim’ a Deus, justamente pelo testemunho e entusiasmo de vocês! Muito obrigado pelo testemunho de fé e de vida de oração que vocês nos dão, a nós e a este mundo que precisa cada vez mais de Deus.

Agora, quero dirigir-me às superioras dos Conventos, dos Mosteiros, das Casas de Formação de todas as Congregações e Institutos aqui reunidos: Caríssimas, a tarefa de dirigir uma casa religiosa, esta nobre missão que lhes foi confiada, precisa ser nutrida constantemente na fonte originária do vosso Carisma, na fidelidade àquela inspiração infundida no coração dos santos fundadores e santas fundadoras de cada Ordem, de cada Congregação.

Estimulem, sempre mais, o conhecimento, a disciplina e a prática do Carisma que o Espírito Santo infundiu no coração daqueles santos e santas. Esta é a estrada segura que vos manterá sempre unidas à comunhão da Igreja e entre si, será o princípio capaz de produzir a unidade e a riqueza que proporciona a diversidade de dons.

Lembremos, aqui, as palavras de São João Paulo II em sua Carta aos religiosos e religiosas da América Latina (1990): “A mesma generosidade e abnegação que impeliram os Fundadores devem levar-vos a vós, seus filhos espirituais, a manter vivos os seus carismas, que continuam – com a mesma força do Espírito que os suscitou – a enriquecer-se e adaptar-se, sem perder o seu caráter genuíno, para se colocarem ao serviço da Igreja e levarem à plenitude a implantação do seu Reino[2].

Cuidem, igualmente, para que a observância dos votos religiosos não seja fruto somente de uma compreensão teórica ou de uma aceitação resignada. Mas, seja expressão de amor, renúncia livre e consciente de almas que louvam a Deus em espírito de pobreza, obediência e castidade.

E a todas vós, queridas religiosas, tenham sempre presente em suas intenções aquela recordação pelos mais necessitados, pelos doentes e por todos os que padecem algum tipo de violência. Vivemos em “uma sociedade marcada pelo conflito, pela convivência difícil entre culturas diversas, pela prepotência sobre os mais fracos e por tantas desigualdades”[3].

Por isso, o vosso testemunho de oração e alegria se faz ainda mais necessário. Tenham a certeza de que as vossas preces são como um bálsamo para este mundo machucado.

Que o vosso coração se alegre, porque Deus vos escolheu como filhas preferidas e confiou a cada uma de vocês a tarefa de, através da intercessão poderosa de suas preces, irrigar este mundo com a seiva do amor divino.

E que esta missão seja cumprida sempre com aquela alegria a qual meditamos: “a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”.[4]

Nesta Eucaristia, Sacramento da presença do Senhor, vamos oferecer ao Pai, junto com o Pão e o vinho, as nossas alegrias e a nossa vida. Vamos ‘cantar a Deus aclamações de alegria’ por todas as graças que Ele tem concedido à Igreja através das orações das irmãs de todos os claustros. Vamos suplicar que Ele permaneça sempre conosco, apesar das tristezas, das dores e dos sofrimentos, na certeza de que, na Sua graça, o nosso coração sempre se alegrará.

Que a vossa vida continue sendo uma expressão viva da confiança na presença de Deus e na Sua Admirável Providência. Vocês, que como São Felipe Néri, preferiram o Paraíso e o amor de Deus às honras e glórias deste mundo, compreendam sempre mais que “renunciar a si mesmo, tomar a cruz a cada dia e seguir Jesus é uma verdadeira alegria”. E eu vos garanto, queridas irmãs, como disse Jesus hoje, que “ninguém vos poderá tirar a vossa alegria!”

Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo.


Dom Giovanni, d’Aniello

Núncio Apostólico

Aparecida, 26 de maio de 2017.





[1] Papa Francisco, Carta apostólica Alegrai-vos, às pessoas consagradas para proclamação do Ano da Vida Consagrada, 2014.
[2] Carta Ap. Os caminhos do Evangelho, aos Religiosos e às Religiosas da América Latina, por ocasião do V centenário da Evangelização do Novo Mundo (29 de Junho de 1990), 26: L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de 29/VII /1990), 360. In Papa Francisco, Carta apostólica às pessoas consagradas para proclamação do Ano da Vida Consagrada, 2014.
[3]  Cf. Papa Francisco, Carta apostólica Alegrai-vos, às pessoas consagradas para proclamação do Ano da Vida Consagrada, 2014.
[4] Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii gaudium, N.1,

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